sexta-feira, 21 de setembro de 2012

o MEU Campeonato Brasileiro de Karatê ...

... e a rifa da Fabiana Murer

Semana passada eu realizei um sonho. Depois de começar cedo a treinar Karate, depois de parar de treinar, depois de me afastar muitão do que o Karate significa, depois de rever a vida, depois de voltar a treinar, de começar a treinar de verdade, de começar a treinar forte, a treinar forte de verdade, depois de segurar essa onda, mesmo sabendo que dificilmente chegaria onde eu sempre vi meus colegas de academia chegarem... eu cheguei.
Mesmo sabendo que muito tempo havia sido perdido, que eu estava velho demais, faixa marrom demais, tenso demais, contraído demais para lutar bem e entrar em uma Seleção Paulista, às vezes sem mesmo saber porque, continuei nessa toada. Choveu, fiquei a pé, fiquei sem dinheiro, me chamaram pra sair, pra isso, pra aquilo.. a preguiça foi minha compenheira inseparável durante quase todo o tempo em que eu vi todos os tipo de desculpa para faltar aos treinos, ou a UM treino. E dá para contar nos dedos de uma mão os treinos em que eu faltei desde que decidi "ver se dava".
Pois é. Em 16 e 17 de setembro eu estava em Fortaleza, "Ciará", cercado de gente que treina tanto quanto eu e manja muito mais, na Seleção Paulista de Karatê, disputando um Campeonato Brasileiro. E, o mais engraçado, na categoria Adulto.
Digo engraçado porque já havia mirado no Master. Disputei até o Paulista no Master, mas a minha idade foi a "escolhida" para a falta de sorte: No Paulista, segundo as regras do Brasileiro do ano passado, 35 anos é Master. No Brasileiro desse ano, até 35 anos é Adulto.
Fui eu então no meio dos mais competitivos Karatekas do Brasil.
Os técnicos da Seleção Paulista fizeram, no treino do hotel e na palestra na véspera do Campeonato, a melhor das melhores preparações com que um atleta pode sonhar. E eu estava lá no meio deles. Fizemos junto com a Professora Eli uma preparação emocional mentalizando na sexta-feira o caminho do sábado, desde o acordar até a hora de entrar no koto para a luta, o caminho, o frio na barriga, o medo, a estratégia... e à noite, em uma palestra motivacional, o professor Ricardo Aguiar relativizou as verdades do Sr Freud, pontuando o que é uma "desculpa".
Desculpa é o que a gente inventa, mesmo embasado em fatos, para justificar a derrota que é nossa. E todos nós temos várias delas para cada ocasião.
Achei engraçado, lembrei da Fabiana Murer e sua explicação para não ter saltado nas olimpíadas. Quatro anos depois de ter perdido sua vara na China e ficado de fora daqueles jogos, em Londres estava ventando demais para ela saltar. As demais saltaram.
Nquela hora eu pensei "Po, se eu tivesse perdido a vara na Chna teria saltado com um bambu, mas se mesmo assim eu não tivesse saltado, esse ano eu batia as asas. Sério: eu saltava sem nem vara!". Mas a Fabiana Murer achou que, com aquele vento todo, era perigoso até se machucar. :-/
Bom... voltei a lembrar dessa palestra e desse mulher quando me vi perfilado com gente tipo Luciano Nardez, Vinícius Souza e outros candidatos ao Campeonato Brasileiro.
Todos faixas pretas, todos muito mais fortes do que eu, todos mais novos e muito melhor preparados.
A cada atleta que os árbitros mandavam se preparar para a próxima luta meu coração atravessava o ritmo. Só quando ele disse "Prepara: 04" o cagaço passou.
Até então eu me aquecia pensando em como faria para torcer o tornozelo. Queria fugir. Foi quando eu vi na quadra ao lado um acidente que acabou até paralizando o campeonato - no meio da minha primeira luta. Nem fiquei olhando. Bad vibes. E eu não ajudaria o carinha olhando pra ele.
Voltando ao que me fez escrever este..
Naquelas horas em que eu sentia vontade de fugir, as caras de cada amigo que comprou as rifas apareciam. E a cada hora era um que me vinha dizer "Vai, Renato! Cê chegou até aqui!!!"
Percebi naquela hora quem era de fato a minha equipe. E que eu simplesmente não tinha mais o direito de afinar. Nessa hora em que eu achei que a coragem viria, veio foi mais cagaço ainda, e aquele demoninho que me falava pra ficar em casa todo dia me falou: mas eles não vão te dar sopinha na boca quando você levar uma porrada na cara. Olhei mentalmente para o demoninho e ri dele. Tava na hora de lutar.
É isso que eu acho que pode ter faltado à Fabiana Murer. Ela é boa demais. Seu "Bolsa-Atleta" não deve ser nem necessário face aos patrocínios que ela deve ter. É uma estrela.
Em todos os sentidos.
Posso estar falando besteira, sendo até leviano, mas meu humilde palpite é que se a Fabiana Murer tivesse ventido rifa para ir até Londres... ela saltava!
MUITO obrigado a vocês cem, que compraram os números da rifa da Bolsa de Karatê Adidas e da Camisa Oficial da Ponte Preta. Vocês me levaram até lá e lá me fizeram lutar.

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